Máquina moderna
Enviada por Mag Guimarães,
Roterdã-Holanda
Autoria desconhecida
3 julho, 2007
Estamos esvaziando a casa da
tia no último feriado. Móvel, roupa de cama, louça,
quadro, livro. Aquela confusão, quando ouço dois
dos meus filhos me chamarem:
- Mãe!
- Que houve, filho?
- A gente achou uma coisa incrível. Se ninguém
quiser, pode ficar para a gente? Hein?
- Depende. O que é?
Os dois falavam juntos, animadíssimos:
- Ééé... uma máquina, mãe.
- É só uma máquina meio velha.
- É, mas funciona, está ótima!
Minha filha interrompeu o irmão mais novo, dando uma
explicação melhor:
- Deixa que eu falo: é assim, é uma máquina,
tipo um...teclado de computador, sabe só o teclado? Só
o lugar que escreve?
- Sei.
- Então. Essa máquina tem assim, tipo...uma impressora,
ligada nesse teclado, mas assim, ligada direto. Sem fio. Bem,
a gente vai, digita, digita...
Ela ia se animando, os olhos brilhando.
- ...e a máquina imprime direto na folha de papel que
a gente coloca ali mesmo! É muuuito legal! Direto, na
mesma hora, eu juro!
Eu não sabia o que falar. Eu juuuro que não sabia
o que falar diante de uma explicação dessas, de
menina de 12 anos, sobre uma máquina de escrever. Era
isso mesmo?
- ... entendeu mãe?... zupt, a gente escreve e imprime,
a gente até vê a impressão tipo na hora,
e não precisa essa coisa chata de entrar no computador,
ligar, esperar hóóóras, entrar no word,
de escrever olhando na tela, mandar para a impressora, esse
monte de máquina, de ter que ter até estabilizador,
comprar cartucho caro, de nada, mãe! É muuuito
legal, e nem precisa de colocar na tomada! Funciona sem energia
e escreve direto na folha da impressora!
- Nossa, filha...
- ...só tem duas coisas: não dá para trocar
a fonte nem aumentar a letra, mas não tem problema. Vem,
que a gente vai te mostrar. Vem...
Eu parei e olhei, pasma, a máquina velha. Eles davam
pulinhos de alegria.
- Mãe. Será que alguém da família
vai querer? Hein? Ah, a gente vai ficar torcendo, torcendo para
ninguém querer para a gente poder levar lá para
casa. Isso é o máximo! O máximo!
Bem, enquanto estou aqui, neste
'teclado', estou ouvindo o plec-plec da tal máquina,
que, claro, ninguém da família quis, mas que aqui
em casa já deu até briga, de tanto que já
foi usada. Está no meio da sala de estar, em lugar nobre,
rodeada de folhas e folhas de textos "impressos na hora"
por eles. Incrível, eles dizem, plec-plec-plec, muito
legal, plec-plec-plec.
Eu e o Zé estamos até pensando em comprar outras,
uma para cada filho. Mas,
pensa bem se não é incrível mesmo para
os dias de hoje: sai direto, do teclado para o papel, e sem
tomada! Céus. Que coisa!
Hoje eu não atendo
nem a Shania Twain
Enviado pelo autor, Belo Horizonte-MG
Por
Ivani Cunha, jornalista
16
junho, 2007
A cantora canadense Shania Twain
nasceu em 28 de agosto de 1965, mas pelo menos na TV ela aparenta
pouco mais de 30 anos. Segunda mais velha de cinco irmãos,
teve uma vida muito difícil, entre machados e serras
elétricas, que aprendeu a manejar para ajudar o pai,
capataz de reflorestadores. As lembranças de infância
de Eilleen (este era o seu nome) não são agradáveis
mas tudo ficou mais complicado a partir dos 21 anos, quando
ela perdeu os pais num acidente de carro e teve que assumir
o sustento dos irmãos trabalhando em um resort. Trabalhar,
fazer experiências no teatro e tentativas em programas
de calouro no rádio e na TV, sem perder o hábito
de ouvir, nas horas de folga, o country de Dolly Parton e Willie
Nelson, as baladas de The Carpenter, Mamas and The Papas e outros.
Mas não foi com esse pessoal que ela aprendeu a cantar,
pois veio ao mundo com um passarinho na garganta. E estava tão
convencida de que iria vencer na vida cantando que adotou o
nome de Ojibway Shania, que significa "Estou a caminho".
Quem conhece os trabalhos de Shania sabe que ela chegou aonde
queria.
GCI apurou essas informações
com o mesmo cuidado que dedica ao levantamento de dados para
a produção de algum texto jornalístico.
Com esse zelo, ele aprendeu bastante sobre a cantora desde a
primeira vez em que a viu na telinha de sua TV, recém-ligada
ao sistema de transmissão a cabo. Um dos canais apresentava,
quase todas as semanas, shows da canadense e quando ela começava
a cantar, mesmo repetindo o repertório, o homem sentava
diante do aparelho e aumentava o som.
Durante muitos meses ele usufruiu
o privilégio de assistir às apresentações,
mas não procurou conhecer a tradução das
letras. Ele nunca estudou inglês com empenho suficiente
para obter nota máxima, por isso imaginava que eram letras
tristes por causa dos arranjos e, principalmente, da interpretação
da cantora. Tudo de acordo com a natureza de GCI: belas melodias,
com tom nostálgico, acompanhamento perfeito, etc.
A família não reclamou
quando ele suspendeu o contrato com a TV a cabo alegando que
os sucessivos aumentos da mensalidade eram inaceitáveis.
Tudo para recuperar o equilíbrio do orçamento
doméstico, concordaram. Atrás do conformismo estava
escondida a satisfação de se verem livres para
assistir a qualquer programa da TV aberta, porque o homem não
estaria mais dominando o controle-remoto em sua eterna caça
a Shania... Alguém, querendo agradar, deu-lhe um CD da
cantora, que no entanto revelou imediatamente os defeitos de
uma péssima cópia.
A compra de um CD legítimo
não empobreceria mais o homem, mas ele preferiu domar
a vontade, deixar de lado o culto à artista canadense
e aproveitar o tempo trabalhando. Num sábado ensolarado,
por volta das 9 horas, antes de se dirigir ao porão da
casa para iniciar mais uma longa sessão de trabalho extra,
ele disse olhando nos olhos de cada um na mesa do café:
"Hoje eu não posso atender nem a Shania Twain, pois
tenho muito que fazer". Recomendou que não lhe encaminhassem
chamadas telefônicas e muito menos o chamassem para atender
um eventual visitante - qualquer um.
As recomendações
finais eram as de sempre, mas a ênfase inicial em não
atender nem mesmo Shania era inédita e definitiva, prova
suprema de que ele queria dar conta das tarefas no sábado,
porque no dia seguinte teria de ficar liberado para assistir
ao futebol - "único programa que vale a pena na
TV aberta".
GCI já estava descendo
a escada e, por isso, não conseguiu ver nos olhos da
filha o desejo de ter um monte de dinheiro. Se tivesse, ela
mandaria buscar Shania, talvez no Canadá, e a colocaria
diante do homem antes que ele entrasse no porão...
Amor e poder - paradoxo de
nossa existência
Enviada pela
autora, São Paulo-Capital

Por Priscila de Loureiro Coelho
9
julho, 2007
Entre tantos paradoxos que encontramos
em nossa vida, esse é, provavelmente o mais complicado
de se equilibrar. Por séculos o homem vem lidando com
ele da melhor forma que pode o que tem se mostrado bem aquém
do ideal.
Com a modernidade esta dicotomia ganhou proporções
mais definidas, e uma valoração mais robusta.
Isso apenas agravou a já delicada habilidade em lidar
com ela.
Dentro do cenário atual temos a prática de ambas
as forças de modo arbitrário, esboçando
um futuro um tanto complexo e sombrio.
Precisamos entender que, embora sejam paradoxais, estes dois
elementos necessitam estar emparelhados, para que possibilite
uma qualidade de vida melhor.
Poder sem amor, é desastroso; amor sem poder é
frágil.
Vivemos em meio à tensão destas duas forças
vitais, e só há possibilidade de não nos
desgastarmos inutilmente, se conseguirmos em alguma medida,
conciliar as duas. A síntese destas energias se faz necessária
para que se atenue sua tensão.
O amor implica maturidade, capacidade de se doar, de acolher
e partilhar. O amor, diferente da paixão, sendo uma energia
propulsora das mais sublimes; é irresistível,
o que a torna um foco que promove a união, convergência
e harmonia aos que circulam em sua órbita.
Portanto o Amor lidera o espaço das emoções,
podendo ser considerada como a mais elevada, mais pura e pro
ativa.
Claro está que é preciso distinguir-se bem o amor
da paixão; caso contrário corre-se o risco de
fomentar maior dificuldade ao buscar, na prática, o equilíbrio
almejado.
Pode-se considerar a paixão como prelúdio do amor.
Embora seja proveniente dele, é energia mais superficial,
periférica e, portanto, menos duradoura. Inflama-se com
facilidade, mas não se mantém viva por faltar-lhe
combustível que lhe dê continuidade.
Quando apaixonado o homem deixa de ser razoável, e embora
pareça estar encantado com o outro, no fundo está
embevecido pelo prazer que este estado lhe provoca, e por isso
mesmo, tornando-se mais egoísta.
Estudos demonstram que quando, antes de apagar, ela se transmuta
adquirindo qualidades mais elevadas, recebendo um toque sublime
e ao mesmo tempo adequando-se ao cotidiano como cenário
em que se deslocará, acontece a transformação.
Uma quase alquimia permitindo ao ser humano a experiência
única de amar.
Essa mutação assegura à humanidade não
só o prazer, a sensação inebriante de sentir-se
amado e parte de outro, como desenvolve a capacidade de experimentar
as mais variadas formas de amor. Antes de apaixonar-se, poderiam
apresentar-se em preto e branco, e após essa experiência,
descortinam-se nas mais variadas e belas matizes, tornando-os
bem mais atrativos, o que predispõe o ser humano a amar
mais e melhor. O amor, enfim, faz do homem um ser menos egoísta,
uma vez que o foco de suas atenções passa a ser
o outro e não mais ele mesmo.
Mas se ao amar não exercer com prudência o bom
senso, esta energia corre o risco de se perder deixando de produzir
os benefícios que potencialmente pode realizar.
Já o Poder implica responsabilidade, capacidade de discernimento,
o senso de justiça e mais ainda, a compreensão
da ética. Considera-se ética o conjunto de valores
que norteia o comportamento dentro da sociedade, valores amplos
que dizem respeito ao ser humano, e alguns mais restritos que
se projetam dentro da cultura, do grupo em questão.
Quando o poder é despido destes quesitos, torna-se exacerbado,
inflamando-se de modo insensato. Um poder assim, espalha discórdia
e insatisfação por onde se instalar, gerando violência
nos mais variados graus, apenas dependendo da extensão
e abrangência que abarca sua área de atuação.
Tanto quanto o amor, o poder exerce sobre o ser humano um fascínio
envolvente, provocando um estado que se assemelha a paixão.
É evidente que tal poder é nocivo e destruidor.
Contendo elementos positivos, passa a atuar como variável
indesejada já que aciona a discórdia e entraves
nos relacionamentos, bem como abre um espaço perigoso
para a corrupção. O poder isento de emoções
maduras e estáveis é responsável pela injustiça
e privação de direitos inquestionáveis
de todo ser humano.
O que se deve buscar com objetividade e persistência é,
pois, o equilíbrio entre ambas as forças, como
o único caminho para se promover, dentro da esfera pessoal
e coletiva, um movimento harmônico que propicie o exercício
da cidadania, em sua forma mais elevada e essencial.
Não é preciso ir tão longe para conferir
o comportamento das pessoas em relação a estas
duas energias. Tão pouco se precisa imaginar o desajuste
que provoca na sociedade. Uma observação mais
acurada ao que se passa ao nosso redor será suficiente
para perceber os equívocos e seus efeitos desastrosos
dentro da vida cotidiana de todos nós.
O que se faz necessário, e com certa urgência,
é atentar-se com agudeza de espírito para cada
escolha que se faz. Deve-se iniciar esta aventura nos limites
rasos da vida pessoal, exercendo com responsabilidade cada singelo
poder que nos foi outorgado no contexto do cotidiano. No lar,
na vida comunitária, nos grupos sociais, religiosos,
na vida profissional, em todos os âmbitos de nosso viver.
Eis o desafio, o convite que a vida nos faz. Acena a possibilidade
de experimentarmos uma qualidade de vida superior, exercendo
com liberdade escolhas que irão compor nosso destino,
e realizar obras que exigem poder e amor.
Nenhum dom em potencial resolve coisa alguma. Para que se torne
realidade é preciso que se transforme em ação
e na ação adequada e compatível com o dom
que optamos para desenvolver.
Amor e poder são forças inerentes ao ser humano
e responsáveis por uma fatia especial de nossa existência.
Dosar ambas as energias, experimentá-las em sua grandeza
e desfrutar os benefícios que produzem, são proposições
na vida de todo cidadão.
Amor e poder são os instrumentos que dispomos para exercer
plenamente nossa liberdade.
Edição
anterior
Música
de fundo em arquivo MID (experimental):
"Ainda lembro", de Marisa Monte
Seqüência Midi: Pedro A. Zanioco e Adréia
Vianna
Nota
para a seqüência MIDI: *****
Inspire-se.
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Segundo o Aurélio,
crônica é "a narração
histórica ou registro de fatos comuns, feitos por
ordem cronológica. Genealogia de família
nobre. Pequeno conto de enredo indeterminado".
No jornalismo é redigido de forma livre e pessoal,
e tem como temas fatos ou idéias da atualidade,
de teor artístico, político, esportivo etc.,
ou simplesmente relativos à vida cotidiana.
É também uma seção ou coluna
(revista ou jornal) consagrada a um assunto especializado.
O conjunto das notícias ou rumores relativos a
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