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Mulher moderna?
Enviada por Marisa Albuquerque, São Paulo-Capital

Por Ana Kessler

19 junho, 2003

São 7h. O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede. Estou tão acabada, não queria ter que trabalhar hoje. Quero ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando até. Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles, se tivesse cachorro, passeando pelas redondezas.

Aquário? Olhando os peixinhos nadarem. Espaço? Fazendo alongamento. Leite condensado? Brigadeiro. Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro pra funcionar.

Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve a infeliz idéia de reivindicar direitos à mulher e por quê ela fez isso conosco, que nascemos depois dela.

Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia a bordar, a trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das hortas, educando crianças, freqüentando saraus, a vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária.

Aí vem uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã tampouco de espartilho, e contamina várias outras rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes sobre "vamos conquistar o nosso espaço". Que espaço, minha filha? Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo ao seus pés. Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para comer, vestir, e se exibir para os amigos, que raio de direitos requerer?

Agora eles estão aí, todos confusos, não sabem mais que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo da cruz. Essa brincadeira de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim. E nos lançando no calabouço da solteirice aguda.

Antigamente, os casamentos duravam para sempre, tripla jornada era coisa do Bernard do vôlei - e olhe lá, porque naquela época não existia Bernard e, se duvidar, nem vôlei.

Por quê, me digam por quê um sexo que tinha tudo do bom e do melhor, que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o macharedo? Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso. Tava na cara que isso não ia dar certo.

Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, que sapatos, acessórios, que perfume combina com o meu humor, nem de ter que sair correndo, ficar engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer atropelada, passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone no ouvido, resolvendo problemas. Somos fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado de mestrados, doutorados, e especializações.

Viramos super mulheres, continuamos a ganhar menos do que eles. Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço?

Chega, eu quero alguém que pague as minhas contas, abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas na minha janela...

- Ai, meu Deus, 7h30, tenho que levantar!

E tem mais, que chegue do trabalho, sente no sofá, coloque os pés pra cima e diga: "Meu bem, me traz uma dose de whisky, por favor?". Descobri que nasci pra servir.

Cês pensam que eu tô ironizando?Tô falando sério! Estou abdicando do meu posto de mulher moderna... Troco pelo de Amélia.

Alguém se habilita?


Não compro, não!
Enviado pelo autor, Conselheiro Lafaiete - MG

Por Antônio Maurício

Numa fazenda, nas imediações de Brasília de Minas, uma cidadezinha próxima de Montes Claros, norte de Minas Gerais, havia um empregado solteirão, de aproximadamente 50 anos de idade, conhecido como Sô Totonho, que fazia pequenos serviços na roça, mas, praticamente, morava mesmo era de favor junto à família do fazendeiro.

Era um sujeito simples, sisudo, sério, porém espirituoso e de boa índole, de um excelente apetite, guloso até, mas muito bem aceito por todos.

Certo dia, este senhor teve que sair da fazenda e ir até a cidade de Montes Claros, uma espécie de capital da região, onde existiam maiores recursos para "passar por uma consulta médica".

Depois de horas na fila do SUS (Sistema Único de Saúde) e o sacrifício para vencer as burocracias e embromações de praxe, nosso amigo consegue consultar. Só após a consulta, horas depois, vencida a espera, a ansiedade e a aflição para ser atendido pelo médico, é que Sô Totonho percebeu que estava com fome, com muita fome, esganado de fome, com a "barriga nas costas".

Saindo do hospital, ali perto, entrou no mercado de Montes Claros (famoso pela oferta de produtos típicos da região) e comprou uma fruta de nome "cabeça de nego" - uma espécie de conde, pinha.- já que os recursos no bolso da calça eram escassos, poucos, contadinhos.

Caminhou então até a rua e sentou-se no meio fio, partiu a fruta e começou a comer.
Para esta operação, teve que improvisar uma colher com os dedos, isto é, era preciso enfiar a mão na massa, os dedos dobrados em concha, como uma colher, para retirar e levar a boca a polpa da fruta que, escorregadia, lambuzava-lhe todo o rosto e parte da roupa.

Nisso, por uma dessas coincidências da vida, veio passando um de seus conterrâneos que o viu ali sentado, comendo em plena via pública, na sarjeta, fazendo toda aquela lambança. Este senhor, bem vestido, de situação social e financeira bem melhor, "metido a besta", político, com receio de que aquela cena pudesse refletir mal para a fama de sua terra natal, de maneira indiscreta, porém incisiva e direta, bem ao estilo germânico, abordou Sô Totonho e foi logo lhe chamando a atenção, repreendendo-o:
- Sô Totonho, que negócio é esse? O senhor não tem vergonha de ficar aí desse jeito, comendo isto no meio da rua? Isto é fruta pra comer em casa!...

Surpreso com a presença e ainda mais com o tom de voz autoritário do conhecido, Sô Totonho, educadamente, responde-lhe:
- E você acha que eu vou comprar uma casa aqui em Montes Claros, só para comer essa fruta? Não compro não, sô!...


Por que os sinos não dobram mais?
Enviado pelo autor, Santos-SP

Por Cláudio Alves de Amorim

A última vez que ouvi o dobrar dos sinos na cidade de Santos, não me lembro o ano, mas lembro a década. Foi durante a década de sessenta. Houve outras ocasiões, é claro, mas o que minha memória alcança é o repicar dos sinos na passagem de ano, o "réveillon" hoje mais usado. Entre o som dos foguetórios, apitos dos navios atracados no porto, buzinassos etc., era possível distingüir, devido a quantidade, o badalo dos sinos. Não precisava residir próximo a uma igreja católica apostólica romana, porque eram muitos e o som era fortalecido.

Mais porque estou escrevendo sobre o passado? Há, lembrei-me. No último dia 2, por volta de 16h40, estava iniciando meu banho para ir para um "bico" de controlador de acesso num casamento com bufê. Mal deixei a água escorrer, envolvi-me na toalha e coloquei-me à frente do aparelho de televisão. A jornalista e apresentadora Fátima Bernardes transmitia aos telespectadores o falecimento do papa Karol Josef Wojtyla, que adotou o título de João Paulo II. Mesmo leigo, e confesso bem pouco religioso -embora tenha conhecimento que alguns ritos oficiais-, os líderes católicos não colocaram os sinos em desuso. Exemplo: os treis toques, com uma espécie de martelo acompanhado pelo chamado do nome de batismo na cabeça, antes de anunciar oficialmente o falecimento e a propagação da notícia a todas as igrejas do mundo para que entoem ou dobrem os sinos de forma fúnebre para anunciar aos fiéis que o papa falecera.

Se isso aconteceu na cidade, foi como se uma andorinha tentasse em vão anunciar a chegada do verão. As pessoas só têm noção de que o verão chegou quando milhares de andorinhas cruzarem o céu. A notícia do falecimento às 16h37 hora local -21h37 no Vaticano- foi transmitida, como já citei, às 16h50 pelo plantão da Globo.

Ainda enrolado na toalha, às 17h00 fui até a janela, talvez com o som da televisão não dava para ouvir o dobrar dos sinos, nada. 17h10 nada. Resolvi terminar meu banho e honrar meu compromisso.

O dobrar dos sinos em todas as igrejas para que todos possam ouvir,certamente não vai trazer de volta os fiéis que a fé católica perdeu para outra fé cristã, mais simbolicamente anunciará que o coração da igreja católica apostólica romana ainda bate forte e alto e que ela estará viva por todos os séculos e séculos amém.

Quem sabe em uma segunda chance, após o conclave, quando o cardeal anunciar "Habemus Papa" todos os fiéis possam saber, antes que a vinheta maravilhosa do plantão da Globo anuncie ou ao menos juntos, e por um bom tempo o simbólico coração da igreja católica possa soar alto e em bom som.


Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"Marina", de Dorival Caymmi
Nota para a seqüência MIDI: *****

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Belo Horizonte, 15 maio, 2005