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Cansei de implorar

Por Noel Rosa

 

Já cansei de implorar
Pra você desguiar
Dizendo que a minha filha
Ainda é muito moça pra namorar

Meu Deus, que teimosia
Desista de insistir
Na delegacia você vai residir

Casar sem exibir credenciais
E sem dizer o nome dos seus pais
Não pode ser conversa para mim que sou doutor
Vá-se embora, por favor

Quem casa sem ter casa não se cria
Amor sem nota não tem mais valia
Você me diz que é advogado de valor
Mas eu também sou doutor.

   

Biografia

Noel Rosa

Por Carô Murgel, com acréscimos de informações pelo editor

Noel de Medeiros Rosa, primeiro filho de seu Manoel e dona Marta de Medeiros Rosa, veio ao mundo em 11 de dezembro de 1910, no Rio de Janeiro, RJ, em parto difícil - para não perderem mãe e filho, os médicos usaram o fórceps para ajudar, o que acabou causando-lhe a lesão no queixo, que o acompanhou por toda a vida.

Franzino, Noel aprendeu a tocar bandolim com sua mãe -era quando se sentia mais importante, lá no Colégio São Bento. Sentava-se para tocar, e todos os meninos e meninas paravam para ouvi-lo extasiados. Com o tempo, adotou o instrumento que seu pai tocava, o violão. Ao longo de sua vida foi então cantor, compositor, bandolinista e violonista.

 

Aos 13 anos então aprendeu a tocar bandolim de ouvido, com a mãe, fato marcante em sua vida, pois a partir daí, percebera que a sua grande habilidade instrumental tornava-o importante diante de outras pessoas. Do bandolim para o violão, foi um passo. Em 1925, dominava completamente o instrumento, participando ativamente das serenatas do bairro.

Enquanto Noel ensaiava os primeiros acordes musicais, estava em voga a música nordestina e os conjuntos sertanejos. O garoto logo se interessou pelas canções, toadas e emboladas da época. Acompanhando a novidade, um grupo de estudantes do Colégio Batista e mais alguns moradores do bairro de Vila Isabel formaram um conjunto musical, denominado "Flor do Tempo". Reformulado para gravar em 1929, o grupo passou a se chamar "Bando de Tangarás". Alguns de seus componentes se tornariam mais tarde grandes expoentes de nossa música: João de Barro, Almirante, e Noel, que já era um bom violonista.

Magro e debilitado desde muito cedo, dona Marta vivia preocupada com o filho, pedindo-lhe que não se demorasse na rua e que voltasse cedo para casa. Sabendo, certa vez, que Noel iria a uma festa em um sábado, escondeu todas as suas roupas. Quando seus amigos chegaram para apanhá-lo, Noel grita, de seu quarto: "Com que roupa?" - no mesmo instante a inspiração para seu primeiro grande sucesso, gravado para o carnaval de 1931, em que vendeu 15.000 discos!

Foi para a faculdade de medicina em 1931 -alegria na família- mas a única coisa que isso lhe rendeu foi o samba "Coração" -ainda assim com erros anatômicos. O Rio perdeu um médico, o Brasil ganhou um dos maiores sambistas de todos os tempos.

A partir de 1933 travou a famosa polêmica musical com o compositor Wilson Batista, outro grande sambista da época. Genial, Noel tirava até de brigas motivo de inspiração. Wilson Batista havia composto um samba chamado "Lenço no Pescoço", uma ode à malandragem, muito comum nos sambas da época. Noel, que nunca perdia a chance de brincar com um bom tema, escreveu em resposta "Rapaz Folgado" (Deixa de arrastar o seu tamanco / Que tamanco nunca foi sandália / Tira do pescoço o lenço branco / Compra sapato e gravata / Joga fora esta navalha que te atrapalha). Wilson, irritado, compôs "O Mocinho da Vila, criticando o compositor e seu bairro. Noel respondeu novamente com a fantástica "Feitiço da Vila". A briga já era um sucesso, todo mundo acompanhando. Wilson retorna com "Conversa Fiada" (É conversa fiada / Dizerem que os sambas / Na Vila têm feitiço). Foi a deixa para Noel compor um dos seus mais famosos e cantados sambas, "Palpite Infeliz". Wilson Batista, ao invés de reconhecer a derrota, fez o triste papel de compor "Frankstein da Vila", sobre o defeito físico de Noel. Noel não respondeu. Wilson insistiu compondo "Terra de Cego". Noel encerra a polêmica usando a mesma melodia de Wilson nessa última música, compondo "Deixa de Ser Convencido".

 

Nesse mesmo ano conheceu sua futura esposa, Lindaura, que quase lhe deu um filho: ao cair de uma goiabeira no quintal de sua casa, Lindaura perdeu o bebê.

Apesar de fortes problemas pulmonares, Noel não largava a bebida e, com bom humor e ironia, formulou uma teoria a respeito do consumo de cerveja gelada. Segundo ele, a temperatura fria da cerveja acabava paralisando os micróbios, livrando-o da tosse. Com isso, ia ludibriando os amigos e a si mesmo.

 

Por essa ocasião Noel precisou transferir-se para Belo Horizonte devido à lesão pulmonar que o acometera subitamente. A capital mineira tornara-se o local ideal para o tratamento prolongado. Lá não havia bares, nem botequins ou as estações de rádio que Noel freqüentava tanto.

A viagem à capital mineira surtiu efeito temporariamente; Noel havia engordado 5 quilos e apresentava sinais de melhora. Entretanto, a boemia falou mais alto. Não tardaria muito para que o compositor descobrisse os segredos da vida noturna da capital mineira, entregando-se novamente às cantorias e bebedeiras. Noel e a esposa estavam instalados na casa de tios que, ao descobrirem as saídas noturnas às escondidas de Noel, mandaram o casal de volta ao Rio.

Nos últimos meses de 1936, Noel não mais saía, preferindo evitar as pessoas, sobretudo as que o questionavam sobre o seu estado de saúde. A única pessoa que o poeta visitava era o sambista e compositor Cartola, lá no morro.

No início de 1937, numa outra tentativa de recuperação, Noel e Lindaura rumaram para Nova Friburgo, em busca do ar puro da montanha. Em vão, pois Noel se deprimia, sentindo falta da Vila Isabel.

Ao voltar para o Rio, a doença já havia o tomado por inteiro; sentia-se fraco, melancólico, apático. Alguns amigos sugeriram-lhe que passasse uns tempos na tranqüila cidade de Piraí (RJ). Mais uma vez, o casal partiu rapidamente, mas, certa noite, Noel sentiu-se muito mal, tendo que retornar às pressas para casa. Já se sabia que o poeta se encontrava em fase terminal. Na noite de 4 de maio deste mesmo ano, nos braços de Lindaura, em seu quarto no chalé, Noel veio a falecer de tuberculose aos 26 anos de idade. A notícia não pegou ninguém de sobressalto, pois, a essa altura, a sua morte já era dada como certa.

Noel era tímido e recatado, tinha vergonha da marca que trazia no rosto, evitava comer em público por causa do defeito e só relaxava bebendo ou compondo. Sem dinheiro, vivia às custas de poucos trocados que recebia de suas composições e do auxílio de sua mãe. Mas tudo que ganhava era gasto com a boemia, com as mulheres e com a bebida. Isso acelerou um processo crônico pulmonar que acabou em tuberculose.

Composições

Adeus
As Pastorinhas
Cansei de Pedir
Capricho de Rapaz Solteiro
Com Que Roupa
Conversa de Botequim
Cor de Cinza
Coração (Samba Anatômico)
Feitiço da Vila
Feitio de Oração
Fita Amarela
Gago Apaixonado
Maria Fumaça
Minha Viola
Meu Barracão
Mulher Indigesta
Não Tem Tradução
Na Bahia
No Baile da Flor-de-Lis
O Que é Que Você Fazia?
Onde Está a Honestidade?
Palpite Infeliz
Pela Décima Vez
Pierrôt Apaixonado
Por Causa da Hora
Pra Que Mentir
Provei
Quando o Samba Acabou
Quantos Beijos
Que Bom, Felicidade Que Vai Ser
Rapaz Folgado
São Coisas Nossas
Seja Breve
Seu Jacinto
Silêncio de Um Minuto
Só Pode Ser Você
Tipo Zero
Três Apitos
Triste Cuíca
Último Desejo
Você só...Mente!


Música de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Feitiço da Vila", de Noel Rosa
Referência: www.mastermidi.com

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Belo Horizonte, 6 de outubro de 2003