A unificação da Alemanha

Por Ricardo Bergamini, professor de economia
E-mail: rberga@globo.com
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30 julho, 2006

O Sacro Império Romano Germânico (fundado por Oto o Grande, em 962) foi dissolvido por Napoleão, em 1806. Os seus 300 e tantos Estados foram reduzidos a 40. E destes, 16 Estados formaram a Confederação do Reno, sob a autoridade de Napoleão.

O Congresso de Viena (1815) criou uma Confederação Germânica de 38 Estados, com a capital em Francfort. O presidente era o imperador da Áustria; o vice-presidente, o rei da Prússia.

“Era uma organização imperial de pouca eficiência, que reuniu os numerosos soberanos alemães e na qual tinham parte também de soberanos estrangeiros com possessões na Confederação, como o rei da Dinamarca e o rei dos Países Baixos. Fora dos limites da Confederação, soberanos alemães possuíam, por sua vez, territórios extensos que não faziam parte da Confederação” (Delgado de Carvalho).

Os partidários da Áustria desejavam a junção de todas as populações germânicas numa Grande Alemanha. Os partidários da Prússia preferiam uma Pequena Alemanha – com exclusão da Áustria.

O Zollferein foi um passo importante no sentido da unificação. Por iniciativa da Prússia (1819), começaram a abolirem-se as taxas alfandegárias entre os países alemães, o que lhes trouxe grandes vantagens econômicas e a conseqüente prosperidade. Em 1836, todos os Estados da Confederação faziam parte do Zollferein. Somente a Áustria recusou-se a aderir, o que provocou a queda do seu prestígio entre os países alemães – em benefício da Prússia.

1848, a Assembléia de Francfort

Em 1848, os movimentos liberais da Europa repercutiram na Alemanha. Líderes políticos alemães – liberais e nacionalistas – sem consultar os respectivos soberanos nem lhes dar satisfação alguma, convocaram uma Assembléia Constituinte em Francfort.

A Assembléia redigiu uma declaração de direitos, escolheu o regime monárquico e ofereceu a coroa imperial ao rei da Prússia, Frederico Guilherme IV. Mas este, com receio da Áustria (e repugnando a origem “vergonhosa”, revolucionária, da coroa), rejeitou o oferecimento.

Por sua vez, a Áustria forçou a dissolução da Assembléia e a abolição das reformas liberais, que haviam sido concedidas em diversos Estados alemães.

Última Vitória da Áustria: Olmütz

Dissolvida a Assembléia, Frederico Guilherme tentou organizar uma Pequena Alemanha unificada e obteve a adesão de alguns soberanos. (Era a chamada “União restrita”).

Em vista disso, o imperador austríaco convocou uma Dieta Federal (representantes dos diversos Estados), que anulou essas decisões e exigiu a dissolução da incipiente União. Frederico Guilherme parecia disposto a resistir. A Áustria, então, ameaçou com a guerra. E o rei da Prússia, na conferência de Olmütz (1850), submeteu-se à humilhante imposição da Áustria.

Bismarck

Em 1861 subiu ao trono prussiano Guilherme I, que se empenhou, sobretudo numa enérgica reforma militar. Contou, para isso, com a colaboração do seu férreo primeiro-ministro, Bismarck. O exército – sob a direção do excelente chefe do Estado Maior, Moltke – foi reorganizado. Dobrou seu efetivo (passou a ter 400.000 homens) foi reequipado com os mais aperfeiçoados armamentos.

Coube a Bismarck levar a cabo a tarefa de unificar a Alemanha. A unidade alemã foi realizada em três etapas:

Guerra dos Ducados – contra a Dinamarca – em aliança com a Áustria (1864); Guerra da Prússia e da Itália – contra a Áustria (1866); Guerra franco-prussiana (1870-1871).

Após a rápida vitória contra a Áustria (Sadowa, 1866), Bismarck criou a Confederação da Alemanha do Norte, sob a hegemonia da Prússia. A Áustria renunciou definitivamente a formar parte da Alemanha. Estava vingada, assim, a humilhação de Olmütz.

Sobreveio, finalmente, a guerra franco-prussiana, habilmente provocada por Bismarck. Além de vencer a França e destruir o Segundo Império (Napoleão III), o chanceler prussiano conseguiu a unificação dos países alemães. Em janeiro de 1871, na Galeria dos Espelhos do palácio de Versalhes, Guilherme I foi proclamado imperador da Alemanha.

A Guerra Franco-Prussiana (1870-871)

1. A França declara a guerra (19 de julho de 1870).

2. Período imperial: derrota francesa de Sedan (2 de setembro de 1870).

a) Um exército francês derrotado na fronteira: perde-se a Alsácia. A Lorena é invadida. O melhor exército francês, comandado pelo marechal Bazaine, deixa-se encerrar em Metz.

b) Com novo exército, Mac-Mahon e Napoleão III marcham sobre Metz. São sitiados e massacrados em Sedan. O imperador se rende a 2 de setembro de 1870. Ao tomar conhecimento da derrota, os parisienses proclamam a República (4 de setembro de 1870).

3. Período republicano: a defesa nacional.

Gambetta organiza a resistência nacional, que dura seis meses. Constitui-se um governo provisório: o “Governo da Defesa Nacional”. Paris é sitiada pelos exércitos alemães. Gambetta foge em balão e se dirige a Tours, a fim de organizar a defesa nacional.

Bazaine, vergonhosamente, capitula em Metz com um exército de 150.000 homens (27 de outubro de 1870). A traição precipita a derrota final. “Metz foi entregue a Bismarck, diz Malet, por um ambicioso que esperava sobressair com a queda do império. O exercito alemão pode, graças a esta infâmia, reforçar as outras frentes”.

Paris é bombardeada pelos alemães; mesmo assim, continua a resistir, em meio a terríveis sofrimentos.

A 28 de janeiro de 1871, o governo provisório concerta o armistício com Bismarck. Os franceses elegem uma Assembléia Nacional, que se reúne em Bordéus e decide negociar a paz. A Assembléia Nacional designa Thiers como chefe do poder executivo e translada-se a Versalhes. O governo de Versalhes entra logo em choque com Paris, que desencadeia a revolução – 18 de março de 1871 – e proclama a Comuna.

A paz franco-alemã é definitivamente estabelecida no Tratado de Francfort (10 de maio de 1871): a França cede a Alsácia (menos Belfort) e o norte da Lorena; além disso, compromete-se a pagar cinco bilhões de francos-ouro.


O Nazismo

Paixão ideológica é uma doença tão grave e devastadora, quanto o câncer

Por Ricardo Bergamini, professor de economia
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21 março, 2006

Causas

Caos, na Alemanha, após a I Guerra Mundial; sentimentos de humilhação em
conseqüência da derrota e desejos de “revanche”; excessiva severidade, talvez do tratado de Versalhes (como se a Alemanha tivesse sido a culpada exclusiva da guerra); inflação catastrófica de 1923 (em agosto, um dólar custava um milhão de marcos e, em novembro, a cotação chegou a dois milhões e meio de marcos – por dólar); militarismo; ardente nacionalismo; medo do bolchevismo (nas eleições de 1923, os comunistas obtiveram seis milhões de votos, ou seja: 1/7 do total); profunda depressão econômica. Mais de oito milhões de desempregados.

Ascensão do Nazismo

Em 1919 funda-se o partido Nacional-Socialista (abreviado, em alemão – nazi), em cujo grupo incluía-se Hitler; Em 1923 fracassa o golpe nazista em Munique. Hitler é preso e, na prisão, escreve o Mein Kampf (Minha Luta); Em 1933 o presidente Hindenburg, ante a pressão de banqueiros e industriais, nomeia Hitler chanceler do Reich. Após a morte de Hindenburg (1934), Hitler proclama-se “füher” (guia) da Alemanha – e instaura a tirania nazista.

Características do Nazismo

São semelhantes à do fascismo italiano, mas com o acréscimo do fundamento racista: superioridade da chamada “raça ariana” (da qual seriam máximos expoentes – os alemães), “a única em toda a História, que tinha feito contribuições notáveis para o progresso humano” – e destinada a dominar o mundo inteiro.

Sentimento esse, já existente antes da I Guerra Mundial, como aponta Haddock Lobo: “Desde os primeiros anos do século 19 –nunca será demais relembrá-lo– prestigiosos filósofos vinham pregando que à raça germânica caberia dirigir a humanidade no sentido do verdadeiro progresso. Sob a influência dessas teorias, entusiasmados pelas gloriosas e recentes vitórias (1870), e pela eficiência de sua organização bélica, profundamente impressionados com as próprias conquistas científicas, técnicas e
econômicas, certos da superioridade de sua cultura, acabaram se convencendo
os alemães de que constituíam, realmente, um povo predestinado a governar o
mundo”.

E, mais adiante, comentado o nazismo: “A raça alemã, o Herrenvolk (povo de senhores), precisava, porém, de Lebensraum (espaço vital), para se desenvolver e finalmente cumprir suas gloriosas tarefas. Precisava também de colônias, e tinha o direito de ir buscá-las pela força, já que ninguém lhas queira devolver. Essa força – afirmava o Führer, peremptoriamente – a Alemanha a possuía, baseada na superioridade de sua cultura, de sua técnica, de sua organização e da capacidade pessoal dos seus filhos. E assim se preparava o espírito de muitas dezenas de milhões de homens para uma das mais arrojadas e trágicas aventuras da História”.

Outros pontos da doutrina Názi

Repulsa ao tratado de Versalhes e à Liga das Nações; necessidade da “revanche” contra a França; reconquista das regiões perdidas e das habitadas por alemães (pangermanismo: a Grande Alemanha); dissolução dos partidos políticos, com exceção do partido nazista; combate encarniçado aos socialistas, comunistas, pacifistas e liberais; ódio e perseguição mortal aos judeus e descendentes de judeus (seis milhões foram assassinados em campos de concentração); desprezo pelo trabalho intelectual; simpatia e consideração especial pela classe camponesa; economia dirigida (e dedicada, principalmente, ao re-armamento).

Seqüência cronológica do avanço Nazista

Em 1935 denúncia do tratado de Versalhes. Restabelecimento do serviço
militar; Em 1936 tropas alemães ocupam a Renánia; Em 1937 os nazistas apóiam
as tropas franquistas (aviões e encouraçados alemães bombardeiam cidades
espanholas em poder dos republicanos); Em 1938 invasão e anexação da Áustria
(“Anschluss”). Conferência de Munique: política de apaziguamento por parte da Inglaterra e da França. Hitler obtém a região dos sudetos (Tchecoslováquia); Em março 1939 invasão e ocupação da Tchecoslováquia. Em 1º de setembro invasão da Polônia e começo da II Guerra Mundial.

A gênese filosófica do totalitarismo

“Nas suas origens íntimas, os regimes totalitários revelam-se como um ímpeto de reação contra os males do liberalismo filosófico, político, social e econômico, males que contribuíram decisivamente para a quebra de unidade religiosa, política e social da Europa, a partir do Renascimento”.

“Em síntese, o liberalismo: recusa um valor absoluto e supremo (donde o relativismo, o ceticismo, o subjetivismo); separa a moral e o direito de Deus (criando uma ética humanitária); posterga o direito natural ao positivismo jurídico; separa a cultura da metafísica e da religião (não se conceitua mais o homem integral, mas sua inteligência e razão somente: intelectualismo; introduz o individualismo e substitui o ideal comunitário pelo internacionalismo e interesse de classes – acentuam-se os “direitos”,
omitindo-se os deveres; cria a economia livre (livre concorrência desenfreada, exploração do homem, capitalismo abusivo); cria o burguês sentimentalista e comodista, que repudia a abnegação, a renúncia, a virilidade”.

“Os regimes totalitários, por sua vez, divinizando os bens criados – Estado,
Partido, Chefe, Raça, Nação – procuram falsamente substituir os valores
desalojados pelo liberalismo”

Alfredo Mattar

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Música de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Zarathustra
", Eumir Deudato
Nota para a seqüencia Midi: *****

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Belo Horizonte, 30 julho, 2006

História