Eduação e conhecimento
Enviado pelo autor, Mandaguari-Paraná

Exclusivo para o Jornal dos Amigos

Por Walter Domingos, escritor
E-mail: wdomingos@brturbo.com

29 maio, 2005

Todos nós conhecemos pessoas altamente educadas, no sentido de permanência em bancos escolares, carregadas de diplomas e com larga experiência, que são conhecedoras de suas áreas de atuação e com bases em outras. Da mesma forma conhecemos outras carregadas de diplomas, que nem mesmo da área na qual é formada, tem conhecimentos suficientes para desempenhar bem suas funções. Conhecemos também cidadãos que não receberam educação escolar suficiente e são especialistas em suas áreas de atuação, com uma cultura geral invejável.
Com fundamento nesta lógica, em alguns países desenvolvidos, já não são exigidos mais currículos ricos, com infindáveis relações de cursos universitários, congressos, artigos publicados e tudo mais. Nos Estados Unidos, por exemplo, em algumas universidades, depois de anunciadas vagas para algumas cadeiras, os candidatos são recebidos e encaminhados para uma sala onde alunos o esperam. Um observador o acompanha dando a sua aula de avaliação. Dependendo do desempenho, já volta para casa contratado, ninguém questiona os cursos que tem ou mesmo o tempo de experiência.

O conhecimento deveria ter sua origem na educação, contudo já está provado que isso não é verdade. Além do senso comum, que proporciona ao indivíduo desempenhar com muita eficiência muitas tarefas com segurança e com margem mínima de erros (pois ninguém é perfeitamente perfeito), desenvolver o saber, adquirir uma cultura pelo menos razoável, o conhecimento depende muito mais da capacidade e disposição de buscar nos livros, jornais, revistas, informativos, programas de boa qualidade nos meios de comunicação televisionados e de rádio. Da mesma forma que depende de uma curiosidade em buscar descobrir a respeito do que se tem dúvidas.

O modelo educacional típico dos sistemas que dominaram o mundo ao longo do tempo, acentuando-se ao longo do século XX, com as duas correntes antagonistas: capitalismo x socialismo, foi simplesmente uma forma de produzir o modelo de homem que cada ideologia necessitava para alienar, se fortalecer e manter no poder. Logo, ter muito conhecimento não era ideal para cada ideologia. Vamos tomar o exemplo de Monteiro Lobato. Por que será que foi preso pelo modelo político do Estado Novo de Getúlio (1937-1945)? O mesmo aconteceu com Graciliano Ramos. E ao longo do regime militar (1964-1984), por que será que prenderam e deportaram Paulo Freire? Exilaram Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Caetano Veloso e muitos outros? Todos tinham conhecimento além de educação.

Um cidadão que tem educação e conhecimento não é capaz de ser infiel a ele próprio. Trair quem quer que seja é terrível. Mas trair a si mesmo é prova de inteligência limitada. Nenhum indivíduo que tem educação e conhecimento não se comporta banalmente, bajulando, apoiando injustiças, corrupções e tudo mais que não concorda, apenas para estar de bem com quem está no poder ou quem quer que seja.


Educar ou adestrar
Enviado pelo autor, Mandaguari-Paraná

Exclusivo para o Jornal dos Amigos

Por Walter Domingos, escritor
E-mail: wdomingos@brturbo.com

15 abril, 2005

As teorias educacionais foram surgindo ao longo da história da humanidade de forma divergente em alguns sentidos e convergentes em outros, recebendo críticas positivas e negativas com maior ou menor lógica, mas sempre fundamentadas em argumentos daqueles que conseguiram criar idéias próprias a respeito da educação.

Se tomarmos grandes teoristas, como Loke, Dewey, Pestalozzi, Rousseau e mais recentemente Montessori, Piaget e Vygotsky, apenas para citar alguns, verificamos que em muitos pontos são semelhantes, em outros não. Todos mereceram análises profundas, concordâncias e discordâncias, aplicações em determinado espaço de tempo e esquecimento quando as exigências passaram a ser diferentes.

Tomando os princípios básicos das tendências pedagógicas, tem-se que a Escola Tradicional procurou dominar a filosofia do ensino de conteúdos acumulados ao longo da história pelos antepassados. Trata-se de uma forma de transferir aquilo que foi descoberto, criado e construído por gerações anteriores, como conteúdos básicos destinados à formação ideal, na concepção de seus defensores. As tendências contemporâneas, atualizadas apresentam inovações. Algumas não abrem mão dos conteúdos, como faz a Escola Tradicional, mas permitem ao aluno a liberdade para aprender. Pelo menos teoricamente.

Vemos por exemplo o construtivismo piagetiano, que propõe deixar que o aluno construa o seu conhecimento com a utilização do ambiente e dos instrumentos colocados à sua disposição, como uma solução de qualidade. Mas será que a aplicação dessa proposta ocorre na prática da forma que é apresentada na teoria?

Na medida em que se cria novos conhecimentos, ou se cria idéias mais lógicas e objetivas, exige-se mudanças no modelo educacional. E essas não ocorrem com maior freqüência, porque há uma forte pressão ideológica que domina o sistema educacional de cada parte do mundo. Na educação as mudanças são muito mais lentas que em outras áreas de atividade humana.

Mas uma questão merece análise minuciosa por parte de professores, educadores, filósofos, psicólogos e críticos do comportamento humano: O que se tem oferecido até agora às gerações a fios, especialmente a partir do início do século 20, quando a educação pública ampliou sua oferta de vagas e depois, quando se tornou dever do Estado e obrigatória a todas as pessoas? Foi realmente educação ou adestramento?

No melhor sentido da palavra, educação "é puro e simplesmente o desenvolvimento das potencialidades individuais, portanto, existentes em cada ser humano". Será que é isso que é feito em nossas escolas?. Geralmente o grande interesse do sistema dominante (sem exceção desta ou daquela ideologia) é garantir que tudo permaneça como está. Basta dar uma olhadela em nossos livros didáticos.

É preciso fazer uma reflexão a respeito da educação que se aplica atualmente e da que se deseja e a partir daí traçar novas metas buscando identificar se as gerações atuais estão sendo educadas ou adestradas.

Esse é um assunto que não se esgota em um e nem em mil artigos. Continuaremos oportunamente.


Qual é o?
Enviado por Arno Hoffmann, Belo Horizonte-MG

Por Ceifem Kanitz

7 abril, 2005

Um dos maiores choques de minha vida foi na noite anterior ao meu primeiro dia de pós-graduação em administração. Havia sido um dos quatro brasileiros escolhidos naquele ano, e todos nós acreditávamos, ingenuamente, que o difícil fora ter entrado em Harvard, e que o mestrado em si seria sopa. Ledo engano.

Tínhamos de resolver naquela noite três estudos de caso de oitenta páginas cada um. O estudo de caso era uma novidade para mim. Lá não há aulas de inauguração, na qual o professor diz quem ele é e o que ensinará durante o ano, matando assim o primeiro dia de aula. Essas informações podem ser dadas antes. Aliás, a carta em que me avisaram que fora aceito como aluno veio acompanhada de dois livros para ser lidos antes do início das aulas.

O primeiro caso a ser resolvido naquela noite era de marketing, em que a empresa gastava boas somas em propaganda, mas as vendas caíam ano após ano. Havia comentários detalhados de cada diretor da companhia, um culpando o outro, e o caso terminava com uma análise do presidente sobre a situação.

O caso terminava ali, e ponto final. Foi quando percebi que estava faltando algo. Algo que nunca tinha me ocorrido nos dezoito anos de estudos no Brasil. Não havia nenhuma pergunta do professor a responder. O que nós teríamos de fazer com aquele amontoado de palavras? Eu, como meus quatro colegas brasileiros, esperava perguntas do tipo "Deve o presidente mudar de agência de propaganda ou demitir seu diretor de marketing?". Afinal, estávamos todos acostumados com testes de vestibular e perguntas do tipo "Quem descobriu o Brasil?".

Harvard queria justamente o contrário. Queria que nós descobríssemos as perguntas que precisam ser respondidas ao longo da vida.

Uma reviravolta e tanto. Eu estava acostumado a professores que insistiam em que decorássemos as perguntas que provavelmente iriam cair no vestibular.

Adorei esse novo método de ensino, e quando voltei para dar aulas na Universidade de São Paulo, trinta anos atrás, acabei implantando o método de estudo de casos em minhas aulas. Para minha surpresa, a reação da classe foi a pior possível.

"Professor, qual é a pergunta?", perguntavam-me. E, quando eu respondia que essa era justamente a primeira pergunta a que teriam de responder, a revolta era geral: "Como vamos resolver uma questão que não foi sequer formulada?".

Temos um ensino no Brasil voltado para perguntas prontas e definidas, por uma razão muito simples: é mais fácil para o aluno e também para o professor. O professor é visto como um sábio, um intelectual, alguém que tem solução para tudo. E os alunos, por comodismo, querem ter as perguntas feitas, como no vestibular.

Nossos alunos estão sendo levados a uma falsa consciência, o mito de que todas as questões do mundo já foram formuladas e solucionadas. O objetivo das aulas passa a ser apresenta-lãs, e a obrigação dos alunos é repeti-lãs na prova final.

Em seu primeiro dia de trabalho você vai descobrir que seu patrão não lhe perguntará quem descobriu o Brasil e não lhe pagará um salário por isso no fim do mês. Nem vai lhe pedir para resolver "4/2 = ?". Em toda a minha vida profissional nunca encontrei um quadrado perfeito, muito menos uma divisão perfeita, os números da vida sempre terminam com longas casas decimais.

Seu patrão vai querer saber de você quais são os problemas que precisam ser resolvidos em sua área. Bons administradores são aqueles que fazem as melhores perguntas, e não os que repetem suas melhores aulas.

Uma famosa professora de filosofia me disse recentemente que não existem mais perguntas a ser feitas, depois de Aristóteles e Platão. Talvez por isso não encontramos solução para os inúmeros problemas brasileiros de hoje. O maior erro que se pode cometer na vida é procurar soluções certas para os problemas errados.

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Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"Caso sério" de Rita Lee e Roberto de Carvalho
Seqüência Midi: Pedro Zaniolo e Andréia Vianna
Nota para seqüência Midi: *****

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Belo Horizonte, 29 dezembro, 2005

Educação